2007/02/23


Grândola Vila Morena – 23 de Fevereiro de 2007

Passam hoje 20 anos sobre a morte de um dos maiores poetas/músicos da nossa história, José Afonso. Estava no primeiro ano de Faculdade, quando um colega entrou pelo bar da Católica e deu a triste notícia a todos. Não esqueço esse dia, como também não esqueço o contributo inestimável que nas artes e na vida pública foi concedido, sempre de forma honesta e descomprometida pelo Zeca Afonso.

Soube conciliar como poucos, talvez somente José Mário Branco, em escala menor, e Adriano Correia de Oliveira, a canção de protesto, ou melhor dizendo a canção de consciência, com os temas tradicionais da música portuguesa e o fado de Coimbra.

Zeca era um homem bom, daqueles que começam a rarear na vida pública. Era um idealista daqueles que não existem mais. Escreveu o sonho de uma sociedade mais justa. Atentem;

Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria

Foi ferozmente perseguido politicamente até 1974 pela “prestimosa” que chegou a engavetá-lo. Ao contrário do que muita gente pensa, nunca pertenceu aos quadros do PC. Era um homem de esquerda, somente.

Nos tempos que correm, e que correm contra nós, é urgente revisitar José Afonso, não deixar cair o seu esforço e de tantos outros que se sacrificaram por fazer da nossa terra algo de melhor.

Grândola Vila Morena terra da fraternidade…

onde estás Grândola?

Aqui fica um extracto de “Os Vampiros” ou melhor Abril destroçado, escarnecido, inevitavelmente enterrado.

No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada


Não se esqueçam dele.

A gente ajuda, havemos de ser mais
Eu bem sei
Mas há quem queira, deitar abaixo
O que eu levantei

A bucha é dura, mais dura é a razão
Que a sustem só nesta rusga
Não há lugar prós filhos da mãe

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